Que não mande mais a terra a consciência e suas torturas.
Ensinei aos homens com quais armas podem combatê-la com vantagem.
Ainda não estão familiarizados com ela;
mas sabes que para mim é como palha que o vento carrega.
Lautréamont
- Nossos povos vêm sofrendo invasões de todo lado e não há nada sendo feito.
O palestrante falava sentado diante de uma mesa e cerca de vinte pessoas na plateia. Um deles se manifesta:
- Mas não existem negociações entre indígenas e, por exemplo, os seringueiros?
- Até existem, mas isso sempre passa por alguma desonestidade.
Ao fim, aplausos pouco entusiasmados. Com a sala quase esvaziada, um rapaz de olhar cansado e trajes formais se dirige ao palestrante:
- Senhor Jairson, boa tarde. Meu nome é Nicanor. Gostei muito da sua fala, parabéns. Eu sou agente de artistas e gostaria muito de trabalhar com o senhor.
- Olha, eu tô meio apertado...
- Não se preocupe, eu levo uma porcentagem nos negócios.
- Que “negócios”?
- Pensei em ser a princípio um livro, em seguida, palestras, feiras, congressos, participação em documentários... o céu, caindo ou não, é o limite.
- Hein? Olha... obrigado, mas... eu não tenho nenhum livro pronto...
- Os editores que mantenho contato consideram que o senhor tem grandes possibilidades de conseguir boas vendas com seus livros. Creio que escrever não seja um problema para o senhor.
- Não, sou formado em Comunicação.
- Ok. Acho que o senhor vai gostar de trabalhar comigo. Por questões editoriais, eles têm apenas uma pequena exigência quanto ao título e, claro, precisamos verificar a credibilidade de todas as informações contidas no livro.
- E qual a exigência do título?
- Nada demais, ele teria que se chamar O futuro é canibal.
- Olha aqui, não há NENHUMA PROVA de que o meu povo era antropófago; isso é uma especulação baseada em...
- Não precisa se referir a rituais dos índio... quer dizer, do povo Ieguak, você poderia usar as metáforas ligadas à Semana de 22, por exemplo, e alguns conceitos ecológicos.
- Não, isso vai pegar muito mal e...
- Fique tranquilo, já fizemos algumas pesquisas. Os algoritmos gostam de “canibal”. Vai dar tudo certo.
- Bom, eu...
- Pense no assunto, você vai receber um e-mail com o contrato e com os valores. Conversaremos de novo daqui a... quinze dias, pode ser?
- Huuumm... ok.
Nicanor sai da sala e escreve uma mensagem no celular em um aplicativo desconhecido.
Nicanor: Já combinei de enviar o contrato. Resposta definitiva em breve.
D. S.: E o título?
Nicanor: Creio que não será problema.
D. S.: Ótimo.
- Mas esse cara fala que nosso mundo já acabou! Nós estamos aqui: VIVOS!
- Ele é uma referência na área. O futuro é canibal está vendendo muito bem, mas precisamos de uma referenda mais robusta do meio acadêmico e a melhor pessoa é ele. Aliás, a editora quer que seu próximo livro seja sobre o apocalipse mesmo.
- O QUÊ?
- Veja bem, essas metáforas são muito fortes. E ajudam o seu povo. O que você quer: falar para ninguém do jeito que o senhor considera mais adequado ou fazer uma pequena torção e ganhar o mundo?
- Eu...
- Estamos conversados. Outra coisa: esqueça esse negócio de Ciclos de Milankovitch, por favor. Não tem base científica e não engaja nas redes. Fale apenas de antropoceno.
- Mas o antropoceno também não tem prova científica definitiva...
- Mas na cabeça das pessoas tem. Antropoceno gera mais culpa e a culpa...
- E essa parte da conversa que vamos ter que criticar o Amaury? Ele topou?
- É claro, a rixa deles é antiga.
- Mas você subornou ele? Fala a verdade, Nicanor.
- Eu jamais faria isso, senhor Jairson... Ademais, tem pessoas que não são subornáveis, mas são vaidosas a ponto de serem flexíveis para ganharem mais visibilidade.
- Então é isso?
- Não sei... mas ele aceitou fazer o vídeo com o senhor.
- Olha, uma coisa é crítica etnográfica e de como fazer políticas educacionais, mas você quer que eu induza ele a falar sobre uma certa soberba do Amaury e até especular sobre uma forma de recepção inadequada, sobre um episódio que fui até bem recebido. Ele era um cara importante da luta indígena, alguém pode ter lá suas críticas a ele, mas...
- O Amaury falava muito bem da miscigenação e você não pode se alinhar com ninguém que fale bem de miscigenação, mesmo que reconheça alguns aspectos negativos.
- Por que, ora bolas? Eu mesmo tenho filho mestiço com uma das minhas ex!
- JAMAIS REPITA ISSO, senhor Jairson! Nós tiramos todas essas informações familiares da Wikipedia etc.
- Como assim “nós tiramos”?
-Tsc. Eu-eu me expressei mal... Nós fizemos um trabalho com a sua imagem nas redes, Isso faz parte.
- Quando você diz “nós”, de quem você está falando?
- De mim. É modo de falar, o senhor entende. Eu, a editora, o pessoal de marketing...
- Mas chega na Wikipedia?
- Claro que não! Isso é só uma consequência...
- Sei.
- O importante é deixar bem claro a oposição “indígenas” e “brancos”.
- Qualé, Nicanor, nós dois não estamos aqui conversando numa boa? E ele, que vai gravar o diabo do vídeo, também é branco, porra!
- Mas não pega bem amenizar essa oposição, vai por mim, senhor Jairson. Vai parecer muito pouco antirracista de sua parte.
- Como aumentar a oposição entre brancos e indígenas vai ser antirracista, não seria o contrário?
- Os tempos são outros, senhor Jairson. O senhor tem que defender a causa indígena contra os brancos. É assim que funciona, aliás, tem funcionado muito bem até agora, não?
D. S.: Comece a operação de intoxicação do filho.
Nicanor: Sim, senhor.
- Sinto muito pelo seu filho, senhor Jairson.
- Obrigado, Nicanor. Essa doença, coisa terrível...
- Mas conseguimos uma arrecadação muito boa pra ONG.
- Ah, que ótimo, de onde veio?
- Daqui, dali... depois o senhor recebe a planilha.
- Eu recebo e passo pros entendidos.
- Como o senhor achar melhor.
- Ieguak, você não acha que a frase “O futuro é canibal” é uma palavra de ordem e ainda por cima conservadora?
- Claro que não, eu quero dizer que o futuro vem das práticas indígenas, precisam aprender com elas, pra garantir o futuro.
- Isso está no livro, mas pouca gente lê, e quem lê geralmente não lê com a atenção devida. A frase é que fica e coloca o canibalismo como o futuro. Mas, na verdade, ninguém sabe como será o futuro, quando se evoca esse tipo de raciocínio e se dá margem para um imaginário conservador, inserindo no imaginário progressista uma lógica conservadora, que é quem gosta de passado se mantendo. Isso pra não dizer o quanto denuncia o conservadorismo da esquerda, quando ela adere largamente a essa palavra de ordem, vamos combinar, já tem até programa de televisão com esse nome e, me desculpe, mas denuncia também o seu conservadorismo latente. Isso é a cara da esquerda que vem tomando nosso país!
- Nicanor, aquele intelectual que me abordou na palestra, chato pra caralho, por sinal, tem reclamado nas redes que seu canal sofreu censura e seus vídeos estão cada vez mais invisibilizados, além de estar perdendo assinantes sem que os próprios assinantes tenham se desinscrito. Você não tem nada a ver com isso, tem?
- Claro que não, senhor Jairson: eu jamais faria uma coisa dessas. Isso deve ser denúncia dos próprios internautas.
- É estranho, porque antes daquela intervenção dele na minha palestra, o canal só vinha crescendo.
- Pois imagino então que o senhor tenha muitos fãs ardorosos na internet.
- Porra, mas eu não entendo merda nenhuma de arte. De descolonização eu até vou bem...
- Calma, senhor Jairson. O convite de curador veio da própria Bienal. E o senhor terá uma equipe de curadores profissionais que serão anunciados juntamente. Mas por favor, pare de dizer descolonização: diga sempre de-co-lo-ni-za-ção.
- Mas pra quê fazer isso tudo?
- Para trazer visibilidade, entrada no mundo da arte e um trampolim pro mercado internacional. Já estamos traduzindo seus livros para várias línguas.
- É...
- Você viu, Nicanor? Saiu aquele artigo de uma famosa crítica de arte detonando a Bienal.
- Ninguém mais lê jornal, senhor Jairson, não se preocupe. E o artigo sequer está disponível gratuitamente.
- Mas tá gerando um bafafá. Pô, eu não sabia que essa Bienal tinha um terço menos de obras que a média das outras: que mico do caralho!
- Eu soube que está saindo uma resposta de outra crítica, mais jovem e trans, rebatendo as críticas dela uma a uma.
- Mas pela cara dos entendidos lá na reunião, deu pra ver que eles não estavam gostando. Só elogiaram mesmo uma coisinha ou outra e mesmo assim a maioria era de coisas antigas.
- Mas a Bienal está sendo falada no mundo inteiro como exemplo de representatividade indígena, negra e LGBTQIA+.
- O crítico disse que isso é porque sai mais barato...
- O público logo esquecerá desse detalhe.
- Senhor Jairson, tenho uma sugestão para o senhor.
- Bom dia, Nicanor. Suas sugestões são sempre muito boas! Qual é?
- Tem um pequeno conflito entre duas trib... dois povos no Pará, o senhor poderia lá trabalhar a pacificação delas.
- Mas isso é muito delicado!
- Não é algo tão grave e o senhor tem muita influência...
- Deixa eu dar uma olhada e te falo.
- Nicanor, aquilo ali é uma rixinha pequena, nem tem tanta importância.
- Sobre a importância, o senhor deixa comigo. O importante é ir lá, conversar, tirar umas fotos.
- Eu...
- A passagem, estadia e transporte eu dou um jeito.
- Jeito como?
-Sabe como é, umas empresas que apoiam a causa e tal...
- Sei.
- NOBEL DA PAZ???!!!
- Claro, lembra daquela importantíssima pacificação que o senhor realizou no Pará?
- Qualé, Nicanor, você sabe muito bem que aquilo não foi nada.
- Bom, todo mundo adorou. O senhor tem grandes chances de vencer. Vai ser o primeiro brasileiro e ainda índio, que dizer, indígena – o senhor me desculpe a minha empolgação –, a ganhar o Nobel.
- Senhor Jairson, enviei o seu discurso para a posse do Nobel por e-mail.
- Eu vi, Nicanor, mas, putaquiupariu, precisa fazer TANTA referência a esse negócio de canibal e fim de mundo? É canibal pra lá, apocalipse pra cá...
- Mas essa é “o” lema do senhor. E é preciso sempre lembrar da questão ecológica: sempre!
- Uma coisa é causa ecológica, né, Nicanor, outra é dizer que tudo vai acabar...
- Não vai acabar, senhor Jairson, afinal, “o futuro é canibal”, como o senhor bem sabe.
- Ah, caralho...
- E Wall Street adora taxar ações da “natureza” e de preferência, na Amazônia...
- O que você disse?
- Nada, senhor Jairson, apenas divagando.
- Em primeiro lugar?
- Sim, senhor Jairson, encomendamos uma pesquisa por nossa conta e caso o senhor se candidatasse à presidência do Brasil, o senhor ganharia apertado no segundo turno. A direita, sabe como é, tem uma rejeição enorme pelo senhor.
- Mas não, Nicanor, isso é grande demais. Eu não entendo nada disso.
- Não se preocupe, o senhor terá os melhores assessores. O maior partido de esquerda do Brasil já se interessou.
- COMO É QUE VOCÊ SABE?
- Depois que saiu a pesquisa...
- Você divulgou?
- Ainda não oficialmente, mas circulou à boca pequena, isso é inevitável.
- Sei não.
- Pense na revolução que isso seria para os povos indígenas.
- Nicanor, essa porra toda, livros entre os mais vendidos, palestra atrás de palestra, participar em programa boçal da Globo, eu não vi nada disso ser revertido mesmo pra causa indígena, muito blablablá, muito pseudointelectual me dando tapinha nas costas, muita reunião inútil, mas benefício pro meu povo... NADA.
- Mas tudo isso pode mudar agora: o senhor será presidente da República. E agradeça aos “pseudointelectuais”, eles compram todos os seus livros e ainda dão de presente.
- Com esse índice de rejeição, sei não...
- A gente dará um jeitinho.
- “Um jeitinho” como, Nicanor?
- Bom, primeiro, vamos oficializar a sua filiação ao Partido?
- Eu não vou fazer essa merda!
- Mas senhor Jairson, nós já pesquisamos. A única chance de vitória é ter também um “maluco de esquerda”, como dizem por aí. Foi o que garantiu a vitória progressista na Áustria.
- Mas vídeo de campanha comigo devorando um sósia do meu adversário não dá, tudo tem limite!
- Olhe aqui, os trend topics do X: “#CanibalPraPresidente”, “#OFuturoÉJairson” e até “#VemMeComerIeguak”! Não podemos fugir do lema da sua campanha.
- Putaquiupariu, mas aquela maquiagem eu não boto, nem que a vaca tussa!
- Mas, Nicanor, na minha primeira semana como presidente, você quer que eu vá pros Estados Unidos?
- É uma viagem muito rápida, ademais, já gravamos vídeos do senhor com a faixa presidencial em várias situações, mesmo antes da vitória oficial.
- É achei meio doideira aquilo, mas...
- Por que mesmo essa viagem pra Nova Iorque antes de Washington?
- Bom, senhor Jairson, agora que o senhor é presidente, tem que saber melhor de algumas coisas. Washington é para tirar fotos. A conversa importante mesmo é aqui.
- Mas que prédio é esse? “Dark Stone”? Isso parece prédio empresarial.
- Ah, é apenas uma empresa de fundos de investimento.
- Não era pra eu ir pra uma instituição política?
- Depois. Antes tem que ser aqui. Eles querem que o senhor entre sozinho na sala. Como está seu inglês?
- Mais ou menos.
- Bom, eles sabem se fazer entender.
- Peraí! Aquele cara lá, saindo, perto do detector de metais, não é aquele filhodumaputa, o tal “antropólogo de direita”? Aquele evangélico que trabalhou no governo anterior?
- Não... o senhor deve estar se confundindo. Vamos, o elevador chegou. Lembre-se, não cumprimente ele com a mão. Seja bem formal. Cumprimento é só em Washington.
A sala estava à meia-luz. Um senhor muito idoso, de terno bem cortado, sentado com um monitor virado para o lado de Jairson, ordena para ele se sentar, indicando a cadeira. Uma mulher sorridente de tailleur cinza aparece das sombras, se apresentando como tradutora.
- Parabéns pela vitória, Presidente.
- Eu... obrigado.
- Agora que nos conhecemos, gostaríamos de passar algumas sugestões para seu governo.
- Pois não?
- Nós gostaríamos muito de colocar uma liderança indígena mulher no seu ministério.
- Ah, eu... conheço ela, não é uma pessoa muito...
- Ela fez um curso com nossos associados e foi muito apreciada.
- Mas nem existia esse tipo de liderança há...
No monitor aparece um vídeo da uma das filhas de Jairson.
- QUÊ ISSO?
- Esse vídeo é ao vivo. Monitoramos a sua família 24 horas. Afinal, não queremos que nada aconteça com ela, certo?
- Cer...to.
- Sabia que nós nos entenderíamos. A sua ministra dará entrada para as ONGs de nossos associados em várias terras indígenas. Celebre isso no seu governo como uma bela ajuda internacional às suas tribos.
- ...
- Outra coisa: as negociações com os Brics sempre passam pela nossa aprovação. Fique tranquilo, a maioria das negociações serão permitidas. Tem uma ou outra coisinha que nós temos algumas... restrições.
- Mas como assim? Nós temos várias parcerias, acordos, eu não posso simplesmente passar por cima de tud...
No monitor surge um vídeo de uma senhora, com o semblante muito desgastado, que começa a contar um episódio que Jairson a abusou sexualmente há muitos anos.
- Isso aí foi um tremendo mal-entendido!
- Ela recebeu uma boa quantia pra ficar calada... por enquanto. Mas voltando à questão dos Brics, estamos entendidos?
- Estamos...
- Para terminar, um último detalhe: jamais, JAMAIS mexa no presidente do seu Banco Central. Você pode se retirar.
- Senhor Jairson, o senhor está um tanto pálido.
- Eu não tô me sentindo bem. Em que merda você me enfiou, Nicanor?
- Eu não sei como foi sua conversa, mas ser presidente é isso, senhor Jairson. Tome esse comprimido. O senhor precisa estar bem paras fotos na Casa Branca amanhã.
- Eu prefiro tomar um chá de...
- Senhor Jairson, seus costumes não funcionam tão bem por aqui.
- Me dá essa merda.
- Mas, Nicanor, a presidente dos Estados Unidos está daquele jeito? Não é melhor o vice assumir?
-De jeito nenhum, vai parecer machismo.
- Mas ela tá com algum problema, acho que cognitivo, ela até foi pro lado contrário na hora da foto. Aquela assessora tinha jeito de enfermeira...
- E era mesmo. Melhor assim, bem assistida, certo?
- Caralho, a presidente da maior nação do mundo...
- Porra, Adolfo, a Polícia Federal tá subindo pra me prender. Eu já fui presidente duas vezes!
- Falei com o Nicanor, ele disse pro senhor ir que já vai sair rapidinho, até depois de amanhã. Fica tranquilo, seu Presidente.
- Mas que que a porra do Nicanor sabe sobre isso, o advogado é você!
- Parece que foi ordem de cima.
- Daquela porra da presidente evangélica?
- Não, mais de cima.
- Nicanor, você disse que eu ia sair logo, já tô aqui tem seis meses!
- Senhor Jairson, fique tranquilo. A sua popularidade está em alta com a esquerda. Está vindo outra caravana dos Ieguak e amanhã vai ter show da Anitta aqui do lado.
- Ah, a Anitta vem, é?
- Bom, o cachê foi meio caro, mas nós demos um jeito. Mas olhe, quando sair, para garantir a soltura, o senhor vai precisar se candidatar de novo.
- Você me garantiu que eu ia ganhar essa eleição, Nicanor!
- Foi uma surpresa o TSE ter liberado que a candidata de Inteligência Artificial pudesse concorrer. A fala do Elon Musk na ONU foi uma reviravolta.
- Mas como o povo pode votar numa coisa dessas?
- Olha, em primeiro lugar, a moda indígena já passou tem um tempo e a IA, que está na crista da onda no mundo inteiro, baseou sua campanha na questão de que foi programada pra não ser corrupta e que ela era a mais verdadeira candidata antipolítica. Isso, ninguém pode negar.
- E o que que aquele pessoal da Dark Stone quer comigo de novo?
- Ah, só acertar os próximos passos, quem sabe, uma carreira como diplomata?
- O senhor tá bem mais jovem, como pode isso?
- Eu transferi minha consciência para a nuvem e depois ela foi downlodada no meu clone.
- Ei, PERAÍ!
Jairson é segurado por três seguranças e colocado preso por cordas de aço com seu corpo suspenso com uma fogueira, abaixo. O clone se aproxima com um garfo e faca e corta um pedaço do quadril.
- Aaaaaaarggghhhhh... mas e a minha carreira de diplomata?
- Amanhã os jornais vão noticiar seu suicídio: autocanibalismo, sabe como é.
- Mas vocês vão perder a minha ajuda no Brasil? E se as ONGs evangélicas invadirem as terras indígaaaaahhhhhhhhh!...
Outra garfada.
- Eheheh sejam ONGs progressistas ou conservadoras, nós sempre estaremos por trás de todas. As pessoas precisam ter a ilusão de oposição... para não olharem para nós.
Umas silhuetas se aproximam, saindo das sombras.
- Quem... quem são eles?
- São os que preferem bem-passado.
Dirige-se para eles:
- Mas vou avisando que o gosto dele não é igual aos outros do tipo dele. Ele já está mais poluído.
- Eu... eu fiz tudo o que vocês me mandaram.
- E agora nós queremos que você participe do nosso jantar.
Jairson fica cada vez mais zonzo, vendo o corpo de Oswald de Andrade sendo fervido. Ele se converteu em um Ayí. Tupã observa calado e sereno ao fundo.
- Me falaram que o Donga era muito mais moderno que vocês.
Dá uma boa mordida no rosto de Oswald, que responde:
- Você tem alguma dúvida? O samba sempre foi muito mais alegre do que nós.
- Mas e agora?
- Agora, rumo ao futuro.
Jairson dá mais uma mordida.