Druam

Druam tende a ser uma experiência "ficcional" em devir, escrita por Nelson Job, pesquisador transdisciplinar, autor do "Livro na Borogodança", do romance "Druam", entre outros. Site: www.nelsonjob.com.br

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25.10.14

Existência, um Clichê

 All at sea again
                         And now my hurricanes have brought down this ocean rain
"Ocean Rain" Echo & The Bunnyman


Num é bem esse negócio de “morrer”, sabe? A coisa é outra. Despachei-me no exercício de deixar de Ser. Pois que sim; primeiro, ao menos de memória, me veio assim... de sonho?, o universo, esse aqui, do Ser e, junto - não sei bem se “antes e depois” ou “níveis ou gradações”-, outras possibilidades de universos em que não se (i)manifestavam pelo Ser, mas por outra coisa que não sei explicar ou descrever. Esses depoimentos do Ser não servem pra exprimir o que não é da (des)ordem dele...

Aí, precipito: primeiro, deixo de ver, esse vício de lidar com o mundo. Agora, quando muito, apenas olho (e “olhe” lá, heim?). Depois, paro de apreender. De “ser” Um com tudo, de me mesclar com as acontecências que avizinham. Em seguida, ou não, suprimo a emoção, que chegam pelos sons, pelos pássaros, pelo samba anunciando - entre a harmonia de suas curvas - a mulher. Ainda mais, ou não, corto as sensações, esse algo que se registra além das palavras. Em seguida, ou não, elimino as percepções, o calor do sol, o frescor dos ventos. Finalmente (será?), deixo de crer. Ainda que supostamente reste um Nada, nem nesse Nada creio, assim, ele evanesce. Exercito, então, um Qualquer. Tudo isso meio desajeitado, posto que a delicadeza pode demandar atemporais demais rumo às insignificâncias.

Aí, o que sucede é indescritível. Não tem cor, sentimento, intensidade, valor. Não tem por que não “é”. “É” outra coisa, ou melhor, não é Nada daquilo que você pensa, conhece, experimenta. Mas também não é o não-ser, que é apenas a negação do Ser. Seria outra coisa, mas aí as manifestações são da ordem do ser, o que me permite apenas negar isso. Ainda que tento afirmar: impensável, imperceptível, nem mutável nem imutável, nem sagrado nem profano, nem ínfimo nem infinito, nem nada entre isso.

O maior vício que me deparei foi o vício de Ser. As coisas são, não conseguem ir “além” disso. É preciso uma boa dose de outra coisa pra descoisar. O clichê da existência é implacável, ainda que as alcunhas de “inimigo” ou “amigo” apenas balbuciem insignificâncias.

“Daqui”, onde nem estou, tampouco é espaço, espreito a insistência universal no Ser, pois; impor deslimites bestifica tanto quanto limites. Num é que não pode, “poder” é um desdobramento do Ser. É que, bom... descoisar sustenta Lá seus outros estranhares.





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