Parábola-r do Infinit(iv)o
Nunca possuí lar.
Nunca tive um lugar
definitivo, aconchego na fuga da tempestade. Pois que muito me clama,
num arroubo inspirado na lenda de Turner, em mergulhar no coração da tempestade, ainda
que haja descansos provisórios em algum lugar em que se possa sonhar.
Em minha juventude primeira,
os laços parentais insistiam em marcar definitivos, mas a estranheza me
estranhava. Ao tornar a estranheza cada vez mais íntima, adquiri maturidade.
A estranheza permea os sorrisos, a febre, o vinho, as mãos
dadas, a farofa. Instalei-me nas cidades, bairros, sotaques, cadências,
brindava um “ali”, nada que permanecesse. Tentar fixar o tempo em um lugar é
apenas brincar de referências, adquirir ritmos; o despertar trazia consigo as esperanças e
astúcias do olhar, astúcias, ai, implacáveis com a permanência.
Sobrava o Eu, que podia
fornecer alguma constância. Aí veio o amor, a alegria, fracassando o projeto de
Eu, deixando que a gargalhada pudesse ser emitida por alguns euzinhos mais
insistentes.
Mas nada disso é um lar. O
coração da tempestade é fugidio demais pra isso. Há, no entanto, as relações:
Habitar relações, chamo
de ser,
dinamizar relações, vertigem,
destruir relações, doença
nenhuma relação, morte
nenhuma relação, morte
cultivar relações, amor
multiplicar relações,
triunfo.
Quando decidi abandonar aquela
busca, descobri, por acaso, um lar possível: aquele do “para além”, verbo
infinitivo do lá: lar.
Um comentário:
Lindo Nelson.Sincero,humano,visceral,otimista, minimalista,próprio, mas mais que autoral eu diria..
A emissão da gargalhada por euzinhos rs mais insistentes, ressoam com que fica da nossa apreensão, ainda que incipiente,equivocada às vezes,embaralhada..não importa. Apreendemos,absorvemos e introjetamos aquilo que podemos e desejamos. Você consegue transmitir como poucos.Na teoria sim, mas na prática ainda mais,na sua prática. Admiro demais tudo isso! Lindo texto!
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