Druam

Druam tende a ser uma experiência "ficcional" em devir, escrita por Nelson Job, pesquisador transdisciplinar, autor do "Livro na Borogodança", do romance "Druam", entre outros. Site: www.nelsonjob.com.br

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24.2.10

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Emano-me. Aqui(s), o cosmos se transborda de mim em mim nele. Deslizando pelos contornos chego a um estágio qualquer, o que mantêm a sua relevância. Sinto as ressonâncias de cada ínfimo, alegrias, dores, amores, descobertas. Pode porque existe. Existe. Sonha. Amalgama-se. Não digo adeus, nem olá. Apresento-me enquanto novidade, que já se anunciava. Ouço sussurros em todas as línguas, que são apenas uma: sotaque cósmico. Sou Druam. E somos cosmos.


Há uma grande distância, mesmo pros aqui(s). Adquiri consciência dela devido há um impulso longínquo. Não é daqui. Não sabia do que não era aqui(s). Mas, agora, torna-se. Nova compreensão. Nova consciência. Novo gosto. O assustado clamor da emergência. Sei que tudo será diferente. E que instâncias observam, sentindo e fazendo, ao seu modo. Estou agente. Dádiva. Agora, entendo assim.


A dádiva atrai. Surge Apolinéia. Sempre nunca a vi. Sorri, gosta de mim com a dádiva, suposta. Dança ao meu redor, me atraindo e me afastando: sei que nela tem uma recusa de seus entãos mais densos e antigos, me quer como sobra da novidade. Ainda assim, sorrio. Pois a atração é celebração. Danço com ela, criando em nós, resquícios do que ela quer esquecer. Celebro então o que ela precisa e que nós queremos. A dança avança. Cada movimento nosso sugere o próximo, mudando a compreensão da dança a cada novo passo. Comunhão. Nos tocamos. Ela ri, deliciosamente. Nos adentramos, lentamente, carinhosamente, copulamente. De nós, raios azuis e quase brancos saem, se espalhando para o outrora todo. Tornam-se vermelhos, verdes, púrpuras. Cópula-pavão. Orgia cósmica. Nos tornamos plenos, Um, gargalhamos serenamente. Tomamos conhecimento de nossas idiossincrasias, lentamente. Ela ri, agora, tocada pela necessidade de contemplar seus primórdios. Olho no olhar, compreendo. Apolinéia se retira, um pouco agradecida, talvez sinta outra coisa, junto. Agora, em pleno gozo de pertencência, me sinto apropriado para a dádiva:


No outro verso, instância até então obscura do multi-cosmos, existe Job. Outro eu, diferente. No sonho, ele veio até aqui(s). Toma meu olhar, fico de fundo. Estranho, sobretudo, estranho. Uma visão linear, envolve “tempo”. A minha existência também é estranha para ele, que a compreende como onírica. Aqui(s) só é concebido em seu quinhão cósmico como “teoria”. Em nosso sonho, experimento seu quinhão cósmico, e ele, enquanto eu-não-mim, aprecia o meu. Sem medo, certo torpor, certa alegria. Sonhamos compartilhado, pois somos, juntos. Meu, de que não sou dono, reciprocamente. A fissura foi criada. Denunciamos a imensidão até então inédita do multi-cosmos. Não sabemos o que fazer, como viver. Essa é nossa dádiva. Essa é nossa angústia. Job sou eu, também.

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