Druam

Druam tende a ser uma experiência "ficcional" em devir, escrita por Nelson Job, pesquisador transdisciplinar, autor do "Livro na Borogodança", do romance "Druam", entre outros. Site: www.nelsonjob.com.br

Índice

ÍNDICE: textos

Pesquisar este blog

25.2.10

01

Job está atônito. Quando desperta, em seu quinhão, sente uma leve incompatibilidade, que vai se tornando maior, até esquecê-la, quase que totalmente. Alguns eventos o lembram da experiência de compartilhar o meu quinhão: sentimentos, manifestações de várias... (como ele diria?) "formas". Antes de se tornar inconsciente, um momento anterior, a lembrança retorna mais forte, talvez preparando o porvir.

Aqui(s) remete à uma série de apontamentos, teorias, pensamentos... tudo muito viciado nisto, a "palavra". As palavras são atratores cujas órbitas governam os pensamentos, os sentimentos. Existem átimos que escapolem delas, mas parece ser raro.

Em primeira instância, nosso compartilhar o remete ao sentido geral de "sonho", mas as experiências mais intensas, com ajuda de outros que fazem jornadas semelhantes, o fazem refletir sobre a "mente", a "física", universos "paralelos", duplos, "emaranhamentos quânticos". É curioso como uma única instância - ele diria, talvez, "realidade" - pode gerar tantas palavras e conceitos para descrevê-la. As palavras o remetem para um sentido múltiplo, de um lado, que pode se bifurcar mais e mais, e, simultaneamente, o prende em um registro único, limitado de vivências, limitado de sensações, enfim, limitado. Ele busca empreender as palavras enquanto "trampolim". Posso conceber isso como boa vontade.

Os tratados de conhecimento reclamam e abusam, simultaneamente, da palavra. São sua fuga e sua prisão, ainda assim, conduzem Job a melhor apreender a nossa experiência. Mas ele sente que não basta.

A assim chamada "arte" ajuda como trampolim. Palavras que fogem de si mesmo, imagens que dobram o sentido do ver, sons entrelaçados criando portais-invólucros de sensações múltiplas.

As experiências vividas de além que ele tomou conhecimento, algumas chamadas "religião" tentam dar conta do que as outras tentativas supostamente falharam. Mas esses clãs, para ele, criam ferramentas por demais específicas, por demais restritas. Ele anseia clamar por todas essas concepções. Como eu disse, boa vontade.

Vaguemos pelos clãs. Os crísticos apreendem uma passagem única, desconectados, anteriormente a ela, com a criação. Derivações de crísticos concebem mais passagens. Os hinduístas são fluidos, remetendo a criação. Os budistas, alguns deles, falam da mais pura impermanência. Job elege estes, mesmo de forma tênue, como próximos do nosso compartilhar, apesar de que os taoístas tem muito a acrescentar. Mais uma vez, a "realidade" é disputada, por saberes, por fé, por... "escolhas". Ele se pergunta como ir além das escolhas.

Os clãs espirituais parecem guardar "faixas" do cosmos. Faixas mais densas pertenceriam às religiões mais tribais, intermediárias para as crísticas, e as menos densas, e até as que abdicam da concepção de "entidade", lidam com a faixa mais etérea.

Então Job, cansado das múltiplas acepções de seu cosmos, sente que aqui(s) "chove". E então ele chora por este breve "momento" que todos os seus saberes-palavras descansam, inclusive de pularem de si. Chovem... luzes, sons, afetos, co-criações eternas-momentâneas. Bifurcam-se mundos, onde cada fôlego pulsa uma criação. Tudo existe porque simplesmente pode existir. Não existe "desperdício", existem reais e reais e reais. Job chora e percebe que a chuva é o choro, o seu choro, que é o cosmos. Ele simplesmente Pertence. E isso, pela primeira vez, basta.

Um comentário:

Rainer disse...

Nelson, a equação 0-(-1) = 1 deu mais certo. Gostei do 01! Abraços, Rainer