Druam

Druam tende a ser uma experiência "ficcional" em devir, escrita por Nelson Job, pesquisador transdisciplinar, autor do "Livro na Borogodança", do romance "Druam", entre outros. Site: www.nelsonjob.com.br

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8.7.11

Colap...

Querida,

Tanto a dizer e não sei quanto tempo tenho. Queria te dizer algumas coisas porque agora a única coisa que eu sinto é o meu coração, estridente, pulsando torto, torto, torto. Você sempre me disse que eu era frio, que não falava o que eu sentia. Pois bem, falo agora, enquanto é tempo. Lembra de quando a gente se conheceu? Você me atendeu tão bem, me ligava pra perguntar como eu tava, perguntava dos remédios... eu sempre desconfiei do seu zelo exagerado, muito pra um paciente, até que eu criei toda a coragem do mundo e te chamei pra sair. Lembro de nosso primeiro beijo, o quanto me fez tudo ficar azul, um azul assim meio neon eheh. Eu não conseguia expressar aquilo em palavras, mas agora sei que bastava avisar do neon, meu amor-neon. Quando a nosso filho nasceu, você reclamava que eu ficava pouco com ele. Não era bem assim. Quando vocês estavam dormindo, eu acordava no meio da noite e eu sei, sei bem, que meu coração ali quase explodia de felicidade por ter vocês, por constituir família. Sei disso agora porque só sinto o meu coração e sei como ele explode. E quando você se acidentou? Aquela batida de carro... Você reclamou que eu não tava preocupado, que eu “só fazia era a coisa burocrática”... Olha, quando soube que você estava no hospital o meu coração parou, sei por que agora só sinto o meu coração e sei como ele para. Sei que não demonstrei, era muito difícil pra mim te ver naquele estado, muito medo de ter perder, sei lá. Quando você voltou pra casa, pra nós, eu senti um alívio tremendo, esses de solavanco, parece que caímos em um universo paralelo, de saber que a minha vida não ficaria de novo vazia. Por falar em vazio, lembra quando a gente brigou e você foi dormir por dias na casa da sua mãe? Meu coração ficou vazio, como agora ele está porque agora só sinto o meu coração. Tive uma sensação horrível, não dormi nos primeiros 3 dias e dormi com remédio no quarto. No quinto, te vi de volta e eu - você pode não ter reparado porque ainda tava com raiva por eu ter cancelado nossa festa de 10 anos de casados - mas eu era todo coração. Tinha que escolher entre uma casa melhor, dos seus sonhos, que apareceu à venda mais ou menos na mesma data e uma festa que era mais, a meu ver, pros outros. Você não conseguiu me ouvir, mas mesmo assim, quando você voltou, eu era todo coração, não fiquei com raiva, fiquei em uma imensa alegria e fiz de tudo o que eu pude - de coração, agora sei – pra te agradar. Talvez por excesso de sutileza, eu não tenha feito você ver, mas não guardei mágoas da briga e dos dias terríveis de separação. Fui todo coração naquele momento, sei disso por que agora não tenho quase mais coração nenhum, posso comparar. A dor em meu coração é imensa, não sei se consigo acabar de escrever essa mensagem. A ambulância deve estar vindo, mas é provável que não chegue a tempo. Queria te falar que a dor maior do meu coração é não poder mais te ver, justo quem o salvou incontáveis vezes, de todos os modos, não está agora do meu lado no momento de te dizer o quanto eu twr;o5 y

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Um comentário:

Carol G. disse...

Adorei! Me lembrei de: "de tanto bater meu coração parou".( o título).
..tenho a impressão que ela sabe, que todos seus atos e intenções foram de todo coração.

bjs