Druam

Druam tende a ser uma experiência "ficcional" em devir, escrita por Nelson Job, pesquisador transdisciplinar, autor do "Livro na Borogodança", do romance "Druam", entre outros. Site: www.nelsonjob.com.br

Índice

ÍNDICE: textos

Pesquisar este blog

30.5.11

Desculpem-nos por compartilhar a sua acontecência


“Desculpem-nos por compartilhar a sua acontecência”.

- Que porra é essa????

Ele deixa o cappuccino cair no chão.

“Não se assuste, #*#*#*#*, explicamos.”

- Enlouqueci de vez agora?

A garçonete, um tanto preocupada, limpa o chão e avisa que trará outro. Ele a ignora.

“Você permanece enquanto atrator desses fluxos, apenar nos fluxamos a ele”.

Ele vai saindo do café, tortuoso.

- Vou ligar pro meu amigo médico, pedir pra ele ficar comigo, quem sabe um calmante resolve, será que eu agora vou ter que tomar antipsicóticos???!!! Eu não devia ter experimentado aquela porra de ecstasy nunquinha na minha vida...

“Aquela... substância manteve seus fluxos mentais sem danos, apenas os aguçou *##*#*”.

- Você tá falando na minha cabeça???????????????

“Fluxama-nos em seus atratores mentais, eu vim de #*#*#*#*”.

Ele mantém a voz baixa, caminhando pelas ruas, o que não evita o olhar estranhado de alguns transeuntes mais atentos.

- Não tô entendendo o que você tá falando, ai, caraaaalho!!!

“Tente baixar os fluxos. Rume para uma localidade menos densa, explicaremos o que #*#*#*”.

- Tem umas palavras que eu não enten...

“Isso... é novo pra nós... linguagem, por isso, há lacunas”.

- Nós quem???

“Baixe seus fluxos *#*#*#. Vá para lugar-calmo”.

Foi pra praça, sentou no banco perto de algumas babás com crianças.

“Pode pensar, nós entenderemos.”

-Agora que você avisa?

“Como disse, inicia agora o processo da linguagem”.

- Vou pensar então, aimeudeus: “Isso eu já entendi, ou melhor, ouvi, agora me diga o que tá acontecendo”.

“Fluxamos em um plano diferente do seu”.

- “O que isso quer dizer, que você é um extraterrestre (eu tô perguntando isso mesmo?)”?

“Tal termo evoca um lugar na extensão fora da Terra, nossa *#*#*# é outra.”

- “Não entendi uma parte... e porquê você diz “nós”?

“Nossa existência é coletiva, certo aspecto de nós fluxa com você agora. Mas o... conceito de ‘você’ é exclusivo de seu nível de densidade. Nós queríamos dizer que nossa condição é outra, fluxamos em um... nível... sutil do fluxar, a questão da extensão, linguagem e... aquela invenção da densidade de vocês... #*#*#*, desculpem-nos... Tempo! É isso. Tais fluxões são estranhas à nós”.

- Cara, se você (ou vocês) não estão no espaço e no tempo, onde é que vocês estão???

“O motivo por nós termos fluxados com você, acreditamos, é porque você já sabe a... resposta”.

Sentiu uma torção em seu ser. Várias idéias, desejos, sonhos, medos e torpores passaram pela sua percepção.

- “Você quer dizer que a minha teoria que eu venho desenvolvendo... (táquiupariu!!!) das relações entre mente, vida, tempo-espaço, campos, mística...

“Suas percepções se assemelharam à nossa sofisticando ao nível de um fluxar entre nós.”

As gesticulações excessivas, apesar de mudas, assustaram babás e crianças. Preocupado com a interpretação acerca de sua sanidade, pegou um táxi e foi pra casa. Durante a corrida, simulou uma dor de cabeça para poder se concentrar na explicação que preferia evitar a ‘conversa’ até chegar em casa.

Chegando ao lar que marejava solidão, pegou um resto de uísque e retomou-se as *#*#*#...

“Esse fluxo que seu atrator agora se compõe, trará algum distúrbio para nosso fluxar”.

- “Cara, qual é, você é do AA”?

“...”

- Esquece. É que eu tô meio nervoso com essa situação.

“Compreendemos que tal fluxo é novidade para o seu nível de densidade, porém, seu fluxo orgânico está cheio de fluxos destrutivos. Sua permanência nesse plano fica comprometida. Sugerimos um aumento de seus fluxos respiratórios e um hábito de novos fluxos que entram em *#*#*#, queremos dizer, que entram em ressonância com seu atrator”.

- “OK, só essa dose”.

Fechou a cortina da sala, pois não queria que os moradores do prédio ao lado observassem um suposto monólogo e caminhar na sala.

“Muitos atratores nessa morada vertical estão se compondo com fluxos destrutivos. Um deles está à beira de se desfazer enquanto atrator por fluxar com algo que lhe impinge o desfazimento”.

- “Nem me fale, o filho do senhora do 202 é viciado em crack, coitado...”

“Outros pertencem ao seu nível de densidade, mas não partilham sequer do desejo de expansão de fluxar ao qual você se instala. Querem poucos fluxos específicos...”

- “Hum. Dinheiro? Trepar? Fuder com a vida dos outros?”

“Muitos apenas seguem os fluxos impositivos”.

-“Ééé”...

“Seus fluxos diminuem. Creio que a sua densidade lhe obriga a baixar radicalmente os fluxos.”

- “Pô, o papo tá bom, tem tanta coisa que eu queria falar, mas, realmente eu preciso dormir”.

“Durma”.

Sonhou com seres-campos que habitavam o universo como um todo, cuja toda existência era uma dança cósmica suave.

Despertador. Acorda, vai fazer o café e vê que a faxineira, mal-humorada como sempre, já tinha chegado. Deu um bom-dia seco.

“Esses fluxos com esse atrator estão... danificados”.

- Ai, puta merda!

-O que foi que aconteceu com o senhor, o senhor tá bem?

- Nada, nada. “Porra, eu tinha esquecido, ou sei lá, me desacostumado, com vocês”...

“Desculpe-n...”.

-“OK, OK. Eu não gosto dela, desconfio que me roube, mas também não procurei ninguém - com calma - pra substituí-la”.

Foi trabalhar. Chegando à sala dos professores, encontrou-a, com aquele sorriso.

- Oi! Tá lembrado da jornada semana que vem?

-Oi. Claro que tô, falta só selecionar algumas imagens.

-Ó, fiquei chateada, heim? Cê não foi tomar um chopp com a gente no fim de semana...

-Pô, num deu, queria ir...

-Sei... bom, vou dar minha aula. Te vejo no almoço?

-Claro, claro.

“Seus fluxos por esse atrator são intensos, porém, pouco desenvolvidos.”

- “Ai, cara...”.

“Aquele atrator tem um funcionamento semelhante, mas mais disponível”.

- “Cês tão dizendo que ela é a fim de mim”?

“Nós fluxamos o que você fluxa, apenas de forma mais ampla”.

- “Pô, mas ela tá noiva e”...

“Em seus fluxos mentais, você problematiza os fluxos convencionados, mas em seus fluxos mais densos, você os leva em conta”...

- “Cês vão dar uma de Freud agora”?

“Os fluxos imensos latentes em vocês são a força sutil do ###**#**”.

- “Heim”???

“Você chama de ‘cosmos’, ‘ser’, totalidade', mas esses termos são bem limitados”.

- “OK, chegamos na sala, tenho que dar a aula agora”.

Falou como nunca antes, se expressou perfeitamente, poeticamente. A classe entrou em uníssono e transbordou-se compreensão mútua. Chegando ao fim, uma aluna se aproximou.

- Sou suspeita pra falar, mas hoje você foi mais que brilhante.

- É, eu tava... inspirado.

“Compondo fluxos contraditórios”...

- “Tô tendo um caso com ela”...

“Compreendemos, mas seus fluxos são de baixa intensidade com esse atrator”.

- “É foda”...

- A gente se vê hoje à noite?

-Olha... não, não vai dar.

Ela olhou sem entender, ele fez apenas um muxoxo e foi para o refeitório. Encontrou novamente a colega com aquele sorriso.

- Oi, será que dava... pra gente almoçar em outro lugar... sei lá... mais discreto? É que eu queria conversar umas coisas... “e vocês, será que dar pra me deixar”...

“Podemos baixar nossa intensidade em seus fluxos mentais, sim”.

- “Mas vocês voltam”?

“Sempre estivemos aqui, apenas seus fluxos proporcionaram uma maior evidência”.

Ela o olhou com dúvida, ternura e esperança, disse que sim. Eles foram a um restaurante e, neste dia, o cosmos, ou algo assim, ampliou seu júbilo.

Nenhum comentário: