Druam

Druam tende a ser uma experiência "ficcional" em devir, escrita por Nelson Job, pesquisador transdisciplinar, autor do "Livro na Borogodança", do romance "Druam", entre outros. Site: www.nelsonjob.com.br

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27.6.10

05. Alteríntimo

Vivencio a instância em que só é possível amor no exílio de cada um. Do eu mesmo em mim, de tanto eu mesmo em mim, até gerar alteridade, até gerar ressonância com aquilo que não sou. Lá, é possível o amor. Pleno. Terrível e maravilhoso. Carece de uma imensa sabedoria - quem sabe, uma ínfima simplicidade - para que impere o maravilhoso. Ai que ai: o divino é a morte do homem, o homem é a homenagem esquecida, arrogante, ao divino.


O socius doente me atropela. Pede-se a todo mundo fazer das tripas, coração; mas é necessário o mundo todo fazer do coração, tripas. Olho para o olhar sôfrego dela mais uma vez. Seu exílio é ter abdicado da confiança plena, esconder a fragilidade e tangenciar a frivolidade como arquétipo tolo arquétipo da sensualidade que supostamente alimenta uma alegria. No desespero, recorre à tradição. Que merda, heim? Os grandes momentos da vida são aqueles que, em desespero, recorremos a mais pura criação. Nem que sangre. Eis que vou!


A fragilidade dela é a chave para se cultivar a força, eis que se encara a fragilidade, onde dói e as vísceras clamam, e alimenta-se com punhados de ousadia, carinho e inesperado. Adeus, mãe!


Então, que eu fique paradinho, em qualquer lugar, que copulamos: fala-se demais em sexo, exerce-se de menos a sexualidade, que é menos adequação genital e mais cultivo de ressonância. Copulamos a qualquer distância, exige-se apenas comunhão cósmica.


Mas devemos tudo ao exílio de cada um, diferentes. Aqui, me deserto ao despensar, apresentar-me enquanto estranho de mim, até que me torne íntimo da minha diferenciação. Daqui, sinto o exílio dela tão dantesco e assustador e me torno outra vez outro no caro exercício de cuidar de sua aberração. Perdoando o exílio dela, na mais trágica compreensão?


Atiro-me nela, sou arma e projétil e sei que vou feri-la. Que seja um ato de amor, pois, a dor que causarei também será minha, e juntos então, escolhemos nos amaldiçoar, amar de suar. Dessa dor, penetração de alteridades, germina-se amor, trêmulo amor. O cuidado extremo, agora, é permitido. As mãos se entrelaçam, se caminha em compasso, diapasão cósmico. Somos nós, exilados em cada um, plenos em relação. Não que eu possa encomendar perdão, aguardo-o.


Tem um germe de sempre. Tem um quê de agora. As canções escapam, o amanhã não chega nunca, os sábios se calam e os lábios beijam. Estamos deliciosamente presos em jaulas de rosas que exalam o mais doce perfume.

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