Os bêbados ficam embriagados no paraíso?
Minha única dúvida. Até porque, depois dessa dose, não sei mais o que pode existir.
As pessoas: sorrindo amarelo nas redes sociais, belezas de upgrades. Sociedade sedada, de sitcon, de cerveja morna, de antidepressivos, de blockbusters cara-que-gosta-da-garota-que-mata-dezenas-que-fica-com-a-garota-no-final-ambos-sujos-e-borrados-de-sangue-dos-vilões-terríveis-maldosos-com-traumas-contruídos-em-manuais-de-roteiros-feitos-com-psicanálise-de-butiquim. Pessoas que trepam com as picas e bucetas e não com os corpos que pululam de afetos quase mortos.
As instituições: a igreja com seus padres pedófilos e/ou sem crença, sem, principalmente, epifania. De que serve um templo que não evoca epifanias? Reza-se pra se sentir pertencente à mediocridade moderna de uma fé vazia, conto de fada que inibe o desespero, que inevitavelmente chega na morte dos queridos, quando o sentido pré-gravado falha. Bruxas velhas e xamãs alienados querem decretar: “O passado voltou!” Posso crer sem dogma? Você deixa? Deus deixa? Os líderes: quem acredita em um chefe, de empresa, de Estado? Egos frágeis que precisam mandar e serem obedecidos e, de preferências, adorados, pelas suas posses. Vício de acúmulo, de bonecos-placebo que obedecem e choram, já gargalharam, em uma infância prematuramente terminada pela obsessão paterna de que eles deveriam, a qualquer custo, passar no vestibular, ao preço de um presentinho e uma dose de Ritalina. Então, sim, a escola: quartel com soldados fardados ou de azul e branco e/ou de slogans. O general-professora pune com notas baixas, sem saberes, só com verbetes. Os alunos hão de escutar muito bem suas ordens com seus i-pods devidamente ligados.
As idéias: os conceitos esvoaçam na noosfera sôfrega, pedindo asilo na mais simples prática de amar, de cultivar qualquer carícia. As idéias, carentes de novos vetores, degeneram na repetição insossa acadêmica. A intelectuália repete as idéias e o mundo vai ficando acéfalo: muitas idéias minguando na repetição que não chega na terra. É na terra, no mais óbvio chão, que começo a comer. Um conceitozinho aplicado, por favor, nem que seja pra dar colo.
A arte: quero só um traço que nunca vi. Uma espontaneidade sem programa de computador, sem escola estética. Uma nota, atonal, que seja distorcida, mas que renove o desejo de dançar. Eis que um movimento inédito me faz rir, dentre zilhões de pseudossensibilidades, palavras ao vento, imagens-coágulo. Uma história sem morte, OK? Uma ousadia sem sangue, combinado? Menos FBI e mais (des)encontros na rua, nem que seja pra esbarrar com ternura.
Invadido da separatismo cósmico, olho pro tecido do real, espatifado, esmigalhado. As porradas seculares, milenares vão abrindo A Brecha. E Eu vou vendo a lacuna se instaurando, desfazendo os laços da Natureza. É isso que diziam “diabo”? Tamanha densidade energética, egoica, que destrói a leveza das fluxões, arromba até a mais tênue, a mais etérea das camadas? NãoquerovernãoqueroverissonãoexisteporranãomevenhacomesseNada
Contemplo, sem mais opções, o Nada. Adeus, então. Foi meia-bomba, adeus∞.
∞ Nota pós-ontológica: ao ver o Nada, sou Nada, mas sou. Em mimNada, pululam copulazinhas de microalgumacoisa. Não que seja exatamente esperança, é apenas Outro Algo, soslaio cósmico...
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